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quarta-feira, 26 de setembro de 2007

-Cirandas da Vida realiza Escambo de Arte e Saúde na SER I

Abram alas, abram alas! As Cirandas da Vida colocam em cena mais um Escambo de Arte e Saúde que vai desenhando a Rede de Arte, Cultura e Saúde de Fortaleza. Estamos no 3º e o cenário é o Pirambu.


Na Escola Estadual Moema Távora, o cirandeiro Jonhson Soares e o grupo Raízes Sertanejas prepararam cuidadosamente o espaço de acolhida. Roupas das quadrilhas dançadas pelo Raízes que falam de temáticas locais: a luta de seu povo pra se manter naquele lugar onde a especulação imobiliária teima em chegar, mas o povo resiste, luta contra a avenida Leste-Oeste e outros empreendimentos que insistem em afastar da praia esse povo corajoso.


Chegou o grupo de capoeira Angola, sob os cuidados do mestre Armando e foi preparando o ritual. E os grupos vão chegando, de mansinho, preparando o cenário para a ciranda girar. Grupo Redenção da Associação Chico da Silva (Chico da Silva foi um grande pintor de Fortaleza, nascido, criado e vivido ali no Pirambu).


Depois veio o Vidança com a força do batuque, a graça das meninas com suas roupas de fuxico que elas próprias confeccionaram, os cirandeiros e cirandeiras. Chegam os que vieram da SER II, III V e VI. Do Bom Jardim , Siqueira, Granja Portugal vieram: Semearte, Tambores do Movimento, Geração Cidadã, Consciência Break, Grupo de Capoeira do MSMCBJ. Da SER VI vieram : Grupo Bate Palmas(Dança de Rua) educadores do CRAS, Meninos Capazes com sua arte circense, capoeira da Assoc Santo Dias. Da SER III: Escuta e Afro Berê. Da SER II : Hip hop e a festa foi ficando cada vez mais animada.


O Raizes Sertanejas, na voz de Carlos Careca, reconstituiu a história do Pirambu:

Vem cá
Vem cá
Vem cá oh menina

Vem cá dançar São João

Não molhe os pés na água

Nem despregue do chão

Maracangalha Maria Moça dançava

Lá no Rabo do Jumento no Gozo SiriCão Praias do Pirambu
Progresso quer matar
Arpoador
Cacimba
Me faltou rimas pra te exaltar.
Nos emocionamos ao ouvir os nomes de tantos personagens homens e mulheres que fizeram a história que a escola não conta, que não está nos livros e vimos crianças e jovens dançando pela paz.


E foi então a vez das Cirandas entrarem em cena e falar de movimentos que possibilitaram que ela chegasse e foi com a fala da arte, da música da ceno-poesia que Ray Lima e Vera Dantas começaram a conversa e todos se juntaram pra contar a história:



Levanta, que o solão já vai raiar
Ele vem pra rachar a terra
E nós vem para acarinhar...


A fome que originou o escambo também vai sendo cantada:


Franzinos meninos
Trouxas na cabeça
Bucho nas costelas
Panelas sem feijão.


Depois foi a vez do cirandeiro Márcio tomar conta da condução da história e foi assim:


A nossa história alguém tem que contar A estrada é muito longa Não sabemos onde vai dar Há dois caminhos um estreito e outro largo Já dizia o bom Raul Aonde é que eu me encaixo... Em cena mais de 100 pessoas, em sua maioria jovens, cantam e dançam a vida.


As rodas dividem-se e vão compor as vivências de dança, onde o Vidança trabalha o côco como dança dramática; a capoeira angola, onde o mestre Armando resgata uma parte da história que muitos não sabíamos e traz à cena a ancestralidade:


E o poeta Ray Lima vai ceno-poetizando:


Cadê o meu amor, ficou nos ancestrais...


E o mestre Armando vai ritualizando a conversa e a partir da vivência nos permitindo ver como a capoeira nasceu como estratégia de vencer a opressão.


Na vivência de música, as notas musicais sob a condução de Carlos Careca e dos cirandeiros Johnson e Márcio, vão afinando esse coral que diz a que vêm os jovens artistas do lado da cidade, que não é visível para a mídia, a não ser para estigmatizá-lo como lugar de produção de violência e eles cantam assim:

Meu divino São José
Aqui estou em vossos pés
De nós tenha dó

Poluição,
Mangue , rio Siqueira e Cocó.
E a ladainha vai se transformado em rap:

Siqueira, Pirambu, Vila Velha e Palmeiras
Terras de valor
Onde a arte é de primeira!


Parada para o almoço: tinha mais gente do que planejamos. A comida foi pouca, mas nada que a solidariedade não resolva. É hora de preparar o cortejo, socializar as oficinas e definir aonde vai aportar o Escambo: Conjunto Palmeira. È para lá que vamos, mas agora é hora de ocupar o Pirambú , de partilhar.


Porque escambo é troca, é partilha, é aprendizado , é cuidado coletivo, é muita emoção e resistência... Alô Pirambú!!!!! O cortejo ganha as ruas, e é lindo ver as pessoas saírem as crianças engrossarem o cortejo, brincarem com o nosso palhaço terapeuta Honorato, que vai entrando nas casas, nos bares. A capoeira angola ritualiza, a gente se irmana com os artistas e isso é saúde, é humanização.


Gira essa roda ciranda

Agita essa roda cirandá

Gira sem medo Cirandas

Cirandas da Vida estão sempre a girar

Vida que é vida não pode parar.


A noite vai caindo sobre Fortaleza e nós cirandeiros e cirandeiras da vida vamos pra casa, cansados e felizes. A rede de arte cultura e saúde já é uma realidade e é a partir dela que vamos buscar com a juventude os atos-limite para promover a vida. Como disse o nosso querido Eduardo Stotz, somos que vamos.

Escrito por Vera Dantas.