Na Escola Estadual Moema Távora, o cirandeiro Jonhson Soares e o grupo Raízes Sertanejas prepararam cuidadosamente o espaço de acolhida. Roupas das quadrilhas dançadas pelo Raízes que falam de temáticas locais: a luta de seu povo pra se manter naquele lugar onde a especulação imobiliária teima em chegar, mas o povo resiste, luta contra a avenida Leste-Oeste e outros empreendimentos que insistem em afastar da praia esse povo corajoso.
Vem cá
Vem cá
Vem cá oh menina
Vem cá dançar São João
Não molhe os pés na água
Nem despregue do chão
Maracangalha Maria Moça dançava
Lá no Rabo do Jumento no Gozo SiriCão Praias do Pirambu
Progresso quer matar Arpoador
Cacimba Me faltou rimas pra te exaltar.
Nos emocionamos ao ouvir os nomes de tantos personagens homens e mulheres que fizeram a história que a escola não conta, que não está nos livros e vimos crianças e jovens dançando pela paz.
E foi então a vez das Cirandas entrarem em cena e falar de movimentos que possibilitaram que ela chegasse e foi com a fala da arte, da música da ceno-poesia que Ray Lima e Vera Dantas começaram a conversa e todos se juntaram pra contar a história:
Levanta, que o solão já vai raiar
Ele vem pra rachar a terra
E nós vem para acarinhar...
Ele vem pra rachar a terra
E nós vem para acarinhar...
A fome que originou o escambo também vai sendo cantada:
Franzinos meninos
Trouxas na cabeça
Bucho nas costelas
Panelas sem feijão.
Trouxas na cabeça
Bucho nas costelas
Panelas sem feijão.
Depois foi a vez do cirandeiro Márcio tomar conta da condução da história e foi assim:
A nossa história alguém tem que contar A estrada é muito longa Não sabemos onde vai dar Há dois caminhos um estreito e outro largo Já dizia o bom Raul Aonde é que eu me encaixo... Em cena mais de 100 pessoas, em sua maioria jovens, cantam e dançam a vida.
As rodas dividem-se e vão compor as vivências de dança, onde o Vidança trabalha o côco como dança dramática; a capoeira angola, onde o mestre Armando resgata uma parte da história que muitos não sabíamos e traz à cena a ancestralidade:
E o poeta Ray Lima vai ceno-poetizando:
Cadê o meu amor, ficou nos ancestrais...
E o mestre Armando vai ritualizando a conversa e a partir da vivência nos permitindo ver como a capoeira nasceu como estratégia de vencer a opressão.
De nós tenha dó
Poluição, Mangue , rio Siqueira e Cocó.
Siqueira, Pirambu, Vila Velha e Palmeiras
Terras de valor
Onde a arte é de primeira!
Terras de valor
Onde a arte é de primeira!
Parada para o almoço: tinha mais gente do que planejamos. A comida foi pouca, mas nada que a solidariedade não resolva. É hora de preparar o cortejo, socializar as oficinas e definir aonde vai aportar o Escambo: Conjunto Palmeira. È para lá que vamos, mas agora é hora de ocupar o Pirambú , de partilhar.
Gira essa roda ciranda
Agita essa roda cirandá
Gira sem medo Cirandas
Cirandas da Vida estão sempre a girar
Vida que é vida não pode parar.